A árvore vermelha
Por Maria Lúcia Rodrigues
Por Maria Lúcia Rodrigues
Mesmo em momentos difíceis, boas surpresas podem acontecer em nossas vidas. Pode vir com uma palavra, um olhar, um presente ou um livro, que nos revela com poucas palavras e imagens explodindo na página recém descoberta o segredo de vivermos nesse tempo pós-moderno. Falo do livro A árvore vermelha, de Shaun Tan.
O autor conta e ilustra a história de um dia difícil para uma personagem triste e melancólica que não consegue dividir com os outros seus sentimentos em relação ao mundo, por se sentir um peixe fora d’agua em um mundo desumano, individualista e exigente, que massifica o homem.
O livro apresenta um texto bem simples e direto, o autor deixa a surpresa para as imagens, construídas com colagens, tintas e lápis, numa paleta de cores quentes em predominância.
As cenas são impressionantes, ou a palavra correta seria expressionantes. Com luminosidade e escuridão na medida certa para nos transportar ao universo interior da personagem, evidenciando uma atmosfera carregada e enfatizando a circularidade do tempo que parece não passar.
Algumas das cenas nos remetem a Edvard Munch artista do movimento expressionista, principalmente pela eficácia em transmitir a angústia e o desespero. Mas quem lê este texto que fala de um livro com tantos elementos entristecedores deve pensar que seria o livro que jamais desejaria possuir. Não, de maneira alguma é esse o caso. A eficácia do autor em trabalhar as imagens que tomam conta do livro de formato grande, potencializa a nossa carga de sensações a cada cena revelada. Ele nos mostra caminhos possíveis diante do caos, uma fagulha de esperança que se faz sempre presente.
Assim é A árvore vermelha, um convite a reflexões sobre o mundo nesse tempo pós-moderno, com todos os seus problemas, mas também com toda a possibilidade de encontrar saídas. Basta nos permitirmos.
O autor conta e ilustra a história de um dia difícil para uma personagem triste e melancólica que não consegue dividir com os outros seus sentimentos em relação ao mundo, por se sentir um peixe fora d’agua em um mundo desumano, individualista e exigente, que massifica o homem.
O livro apresenta um texto bem simples e direto, o autor deixa a surpresa para as imagens, construídas com colagens, tintas e lápis, numa paleta de cores quentes em predominância.
As cenas são impressionantes, ou a palavra correta seria expressionantes. Com luminosidade e escuridão na medida certa para nos transportar ao universo interior da personagem, evidenciando uma atmosfera carregada e enfatizando a circularidade do tempo que parece não passar.
Algumas das cenas nos remetem a Edvard Munch artista do movimento expressionista, principalmente pela eficácia em transmitir a angústia e o desespero. Mas quem lê este texto que fala de um livro com tantos elementos entristecedores deve pensar que seria o livro que jamais desejaria possuir. Não, de maneira alguma é esse o caso. A eficácia do autor em trabalhar as imagens que tomam conta do livro de formato grande, potencializa a nossa carga de sensações a cada cena revelada. Ele nos mostra caminhos possíveis diante do caos, uma fagulha de esperança que se faz sempre presente.
Assim é A árvore vermelha, um convite a reflexões sobre o mundo nesse tempo pós-moderno, com todos os seus problemas, mas também com toda a possibilidade de encontrar saídas. Basta nos permitirmos.
TAN, Shaun. A árvore vermelha. Tradução Isa Mesquita São Paulo: Edições SM, 2009.
Publicado originalmente em: http://blogdoprolij.blogspot.com.br
O que é qualidade em ilustração: com a palavra o ilustrador
Por Maria Lúcia Rodrigues
Para aqueles que trabalham com ilustração de livros e para aqueles grandinhos que amam ver ilustrações de livros para crianças e jovens, folhear este volume, com selo de altamente recomendável pela FNLIJ, é um balsamo para os olhos e a mente. Afinal, é muito mais tranquilo ler a imagem quando se entende os meandros de sua criação.
Organizado por Ieda de Oliveira, o livro é uma coletânea de artigos e depoimentos acerca do universo da ilustração; nomes consagrados como Rui de Oliveira, Ângela Lago, Ciça Fittpaldi, André Neves, Nelson cruz, Odilon Moraes e Marilda Castanha estão entre os vinte e tantos ilustradores convidados para o trabalho.
Para aqueles que trabalham com ilustração de livros e para aqueles grandinhos que amam ver ilustrações de livros para crianças e jovens, folhear este volume, com selo de altamente recomendável pela FNLIJ, é um balsamo para os olhos e a mente. Afinal, é muito mais tranquilo ler a imagem quando se entende os meandros de sua criação.
Organizado por Ieda de Oliveira, o livro é uma coletânea de artigos e depoimentos acerca do universo da ilustração; nomes consagrados como Rui de Oliveira, Ângela Lago, Ciça Fittpaldi, André Neves, Nelson cruz, Odilon Moraes e Marilda Castanha estão entre os vinte e tantos ilustradores convidados para o trabalho.
A parte histórica é destacada por artigos de Rui de Oliveira que traz um breve histórico da ilustração no livro infantil e juvenil; Odilon Moraes discute o projeto gráfico do livro priorizando a trajetória do ofício de ilustrador e as mudanças ocorridas na concepção do livro com o surgimento das universidades e da imprensa ao longo dos séculos; ele também entra na história da ilustração com foco nas diferentes técnicas de produção, comentando toda a trajetória da imagem de cunho narrativo chegando à xilogravura, à litogravura e passando pelas linguagens contemporâneas, atentando para o perigo dos modismos que muitas vezes tomam conta das produções e empobrecem a expressão nos trabalhos atuais, pelo fato de o ilustrador ter à sua disposição uma gama de ferramentas digitais que oferecem uma infinidade de recursos visuais.
Outros temas como elementos visuais, narrativa visual e relações intertextuais são abordados no livro. Também ganha destaque seu projeto gráfico de autoria de Ana Sofia Mariz, como não poderia deixar de ser num livro no qual o assunto é ilustração; traz um pequeno texto sobre o design do livro, uma beleza à parte, pois, dar unidade ao texto que traz diferentes visões e expressões plásticas a cada artigo ou depoimento, é um desafio que a design, mestre em seu trabalho, desempenhou com sabedoria.
São esses fatores aliados ao empenho de Ieda de Oliveira na organização desse livro que faz dele leitura obrigatória para pesquisadores e estudantes da área da literatura, design e artes visuais.
OLIVEIRA, Ieda de.(org) O que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil: com a palavra o ilustrador. São Paulo: DCL,2008.
Publicado originalmente em: http://blogdoprolij.blogspot.com.br
A grandeza das coisas desimportantes
Outros temas como elementos visuais, narrativa visual e relações intertextuais são abordados no livro. Também ganha destaque seu projeto gráfico de autoria de Ana Sofia Mariz, como não poderia deixar de ser num livro no qual o assunto é ilustração; traz um pequeno texto sobre o design do livro, uma beleza à parte, pois, dar unidade ao texto que traz diferentes visões e expressões plásticas a cada artigo ou depoimento, é um desafio que a design, mestre em seu trabalho, desempenhou com sabedoria.
São esses fatores aliados ao empenho de Ieda de Oliveira na organização desse livro que faz dele leitura obrigatória para pesquisadores e estudantes da área da literatura, design e artes visuais.
OLIVEIRA, Ieda de.(org) O que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil: com a palavra o ilustrador. São Paulo: DCL,2008.
Publicado originalmente em: http://blogdoprolij.blogspot.com.br
A grandeza das coisas desimportantes
Por Maria Lúcia Rodrigues
Por que pedras encantam tanto as crianças? Será que é porque ninguém as quer, ou porque sua inércia guarda segredos do tempo?
Essa tendência para empecilho talvez só Drummond possa explicar, porque se depender das crianças e do dicionário manuelês, a utilidade de uma pedra não terá importância nenhuma, mas sua irrelevância sim, é ali que estão esquecidas a grandeza do nada que poetas e crianças conhecem tão bem.
E para conhecermos essa grandeza do nada Prisca Agustoni e André Neves nos apresentam Abauye, um menino africano que adorava colecionar pedras. As carências de sua vivência eram afagadas pelas pedras e pelas palavras, de preferência aquelas mais primorosas e caras como joias. Estas ele sabia muito bem usar, aprendeu com as mulheres de sua aldeia.
Para poder colecionar pedras Abauye parte numa jornada pelas estradas de seu país africano. Na aventura vivida por Abauye, ele não encontra só pedras, encontra também a triste Noémia, que não vê encanto nas pedras do menino.
Nessa história, André Neves com seu traço singular completa o texto de Prisca Agustoni com muita graça para mostrar que o desafio imposto por Abauye, para trazer aos lábios da jovem Noémia um sorriso, vem revelar ao leitor a magia das palavras que transformam realidades.
Obra: O colecionador de pedras
Autor: Prisca Agustoni
Ilustrador: André Neves
Editora: Paulinas
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De desejos e encantos
Por Maria Lúcia Rodrigues
Margarida, uma vaca com “asas na cabeça”, nasceu numa grande fazenda onde as cercas demoram a aparecer, mas elas existem. Todos pareciam livres e satisfeitos com aquela imensidão de pasto, menos ela.
Sua mãe lhe contou, antes de partir para conhecer o mundo, que os patrões, por gratidão, davam uma bela viagem de balão para as vacas da fazenda quando essas ficavam velhas. Margarida não queria esperar tanto, queria conhecer o mundo com urgência, então, após muito pensar decidiu procurar as cercas, encontrou-as. Ultrapassá-las não seria fácil; a solução era arriscada e teria de ser ponderada. Mas, Margarida não teve medo; entregou-se ao desconhecido e por ter persistido, o destino lhe reservou uma bela e encantada surpresa.
André Neves conta a história de Margarida em palavras e imagens que enchem os olhos de muita poesia traduzida em cores do tempo: azuis fluídos da água, laranjas de nascer e pôr-do-sol, verdes e amarelos cítricos, sem esquecer-se do rosa delicado como Margarida.
Assim se constrói a história de desejos e encantos de uma vaca sonhadora e é por isso que dá vontade de mergulhar de cabeça dentro do mundo de Margarida.
Não é por nada que este livro recebeu o selo “Altamente Recomendável” pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil- FNLIJ.
NEVES, André. Margarida. Belo Horizonte: Abacate, 2010.
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Sempre em algum lugar uma história, mesmo tendo séculos, será nova para alguém, qualquer um constata isso, não há novidade. Mas, mesmo não sendo novidade para muitos, novos olhares e novas linguagens podem tornar interessante, e belo, o que o tempo tornou clássico.
Jerry Pinkney, premiado ilustrador norte americano, expõe em uma narrativa visual, uma das fábulas de Esopo, O leão e o camundongo. Sua versão não tem a intenção de propor adaptações para a fábula, como grande parte das obras contemporânea que trabalham com revisitamentos clássicos, a não ser pelo fato da história estar sendo contada inteiramente em imagens. Mesmo não tendo a intenção de adaptar o texto de Esopo, somente o fato de trabalhar a história apenas por meio da imagem permite ao leitor uma liberdade maior na proposição de leitura, pois não fica tão explicito, quanto na palavra, a moral da história, característica das fábulas.
As imagens descortinam calores africanos de uma savana latente em vida. Assim é o cenário onde se passa a fabula do leão que deixa livre seu petisco, um camundongo, e este em retribuição lhe salva dos caçadores.
Pikney traduz a atmosfera grandiosa da savana africana em aquarelas detalhadas com suavidade no pincel em inúmeras camadas de cor onde os tons dourados e verdes predominam. As cenas se abrem e se fecham em detalhes nas páginas e os sons se fazem presentes em pequenas inserções de onomatopéias. E o que dizer dos protagonistas desta história de um rei cheio de estirpe, grandioso naquelas paragens, encontrar num pequenino camundongo a amizade e a lealdade.
Essa fábula ganha nova vida como narrativa visual, mas, sobretudo, mostra que amizade e lealdade não dependem de posições sociais. Por isso, quando a sede assolar, é sempre bem vinda uma fonte, mesmo que de tempos tão distantes e Esopo ainda consegue saciar muita sede.
Obra: O leão e o camundongo
Autor e ilustrador: Jerry Pinkney
Editora: Martins Fontes
Publicado originalmente em http://blogdoprolij.blogspot.com.br/
Beber da fonte antiga para matar a sede de agora
Por Maria Lúcia Rodrigues e Sueli de Souza Cagneti
Sempre em algum lugar uma história, mesmo tendo séculos, será nova para alguém, qualquer um constata isso, não há novidade. Mas, mesmo não sendo novidade para muitos, novos olhares e novas linguagens podem tornar interessante, e belo, o que o tempo tornou clássico.
Jerry Pinkney, premiado ilustrador norte americano, expõe em uma narrativa visual, uma das fábulas de Esopo, O leão e o camundongo. Sua versão não tem a intenção de propor adaptações para a fábula, como grande parte das obras contemporânea que trabalham com revisitamentos clássicos, a não ser pelo fato da história estar sendo contada inteiramente em imagens. Mesmo não tendo a intenção de adaptar o texto de Esopo, somente o fato de trabalhar a história apenas por meio da imagem permite ao leitor uma liberdade maior na proposição de leitura, pois não fica tão explicito, quanto na palavra, a moral da história, característica das fábulas.
As imagens descortinam calores africanos de uma savana latente em vida. Assim é o cenário onde se passa a fabula do leão que deixa livre seu petisco, um camundongo, e este em retribuição lhe salva dos caçadores.
Pikney traduz a atmosfera grandiosa da savana africana em aquarelas detalhadas com suavidade no pincel em inúmeras camadas de cor onde os tons dourados e verdes predominam. As cenas se abrem e se fecham em detalhes nas páginas e os sons se fazem presentes em pequenas inserções de onomatopéias. E o que dizer dos protagonistas desta história de um rei cheio de estirpe, grandioso naquelas paragens, encontrar num pequenino camundongo a amizade e a lealdade.
Essa fábula ganha nova vida como narrativa visual, mas, sobretudo, mostra que amizade e lealdade não dependem de posições sociais. Por isso, quando a sede assolar, é sempre bem vinda uma fonte, mesmo que de tempos tão distantes e Esopo ainda consegue saciar muita sede.
Obra: O leão e o camundongo
Autor e ilustrador: Jerry Pinkney
Editora: Martins Fontes
Ano: 2011
Publicado originalmente em http://blogdoprolij.blogspot.com.br/
O tempo é soberano, muda homens, muda pensamentos, muda destinos. Às vezes, o tempo também abre cortinas, e a paisagem que se encontrava velada se revela em detalhes preciosos, estes podem não ser o real, mas, a realidade e a verdade dependem do ponto de vista.
O livro de narrativa visual “Os donos da bola”, de Jô de Oliveira traz em seu enredo uma dessas paisagens subitamente reveladas. O autor lança um olhar novo e divertido para um tema tão banal para o brasileiro: o futebol, mas especificamente a história do futebol, sob o ponto de vista de um brasileiro.
Quem inventou o futebol com suas regras foram os ingleses. É fato. Contudo, mesmo o sendo, Jô de Oliveira muda a história desse esporte sob um novo olhar, não para questionar o instituído, mas para abrir a cortina e nos mostrar o que significa riqueza cultural e material para uma nação.
O autor narra em imagens sua versão para a história do esporte com traço caricato e carregado de preto por meio de um menino escravo no Rio de Janeiro dos oitocentos, que vê uma indígena deixar cair uma bola (que pode ser um coco ou uma bola de borracha) de seu cesto ao passar por ele numa ruela da cidade. Em meio a euforia de pegar a bola que rolava pela rua junta-se ao menino outros escravos adultos que em cabeçadas, toques de peito, e chutes vão conduzindo a bola. Nessa passagem da bola, fio condutor da narrativa, paisagens cariocas e costumes vão sendo revelados. A questão é que sem perceber, e é sempre assim, a brincadeira de escravos era observada atentamente por um estrangeiro.
Pois é, dizem que os mais fortes fazem a história. Mas, às vezes, existem momentos de reflexão em olhares que contradizem e questionam os meios nos quais ela se constrói, e nós, que somos mais espectadores do que agentes dela (a história), devemos decidir em que verdade acreditar.
OLIVEIRA, Jô de. Os donos da bola. São Paulo: Escala Educacional, 2010.
Publicado originalmente em http://blogdoprolij.blogspot.com.br/
O livro Telefone sem fio de Ilan Brenman com ilustrações de Renato Moriconi, ganhou o prêmio FNLIJ “Melhor Livro de Imagem”. A história é apresentada num formato grande e com imagens pintadas em quadros (um quadro por página) onde o busto de cada personagem é retratado em cada quadro. O que o leitor pode visualizar quanto ao enredo é que uma personagem conta algo ao pé do ouvido para a outra da página ao lado. Parece uma narrativa visual simples, porém, os autores foram perspicazes ao criar um espaço de tempo e lugar imenso nesta simples brincadeira de telefone sem fio.
Quem começa a cochichar na história é um bobo da corte de um reino qualquer. O mundo dá voltas e as notícias vão com ele, cruzando oceanos e continentes. Este trajeto pode trazer curiosas e divertidas surpresas para nós leitores e para as personagens, algumas delas muito conhecidas de antigas leituras.
“Toda ação tem uma reação”, já dizia Newton. A ação da primeira personagem a ela retornará e, qual será o resultado da ação de um bobo da corte ao contar um segredinho para seu rei?
BRENMAN, Ilan; MORICONI, Renato. Telefone sem fio. São Paulo; Companhia das Letrinhas, 2010.
Publicado originalmente em http://blogdoprolij.blogspot.com.br/
Os grandes mitos, os heróis de uma nação são como grandes tesouros, neles as gerações se inspiram. Assim é também com os povos indígenas. A vida em sociedade, o conhecimento de caça, pesca e as crenças partem das histórias contadas ao pé da fogueira por seus lideres, os pajés, ou payni como o povo Mawé chama seu líder espiritual. É assim as histórias contadas no livro Awiató-Pót: histórias indígenas para crianças, do autor indígena Tiago Hakiy (da tribo Mawé). São histórias contadas do grande Awiató-Pót, um guerreiro Mawé, nascido de uma bela índia transformada em cobra grande e que em noites de tempestade ganha a forma humana e de um gavião-real. São façanhas do guerreiro contadas em quatro contos: o seu nascimento, a origem da noite, Awiató-Pót e o Juma e enfim, a morte de Awiató-Pot. Além da beleza poética dessas histórias, o livro apresenta ilustrações de Maurício Negro que suscitam leitura à parte pela beleza e perspicácia na elaboração dos traços, das cores e do texto visual que apresenta. Sem dúvida um convite ao fantástico, presente em palavras e imagens neste livro. Onde cobras falam, sapos são espertos, homens viram bichos. Onde a natureza não possui hierarquias e o diferente convive em harmonia, afinal, não é em qualquer história que o tão conhecido sapo assume as rédeas e vai atrás da bela princesa passando por cima do rei, seu pai – o grande tuxaua das onças- Awyató –Pót. É bom imaginar que esse mundo de encantamentos do povo indígena do Brasil está muito vivo, e que eles podem partilhar seus ensinamentos em belos livros como este.
Obra: Awiató-Pót: histórias indígenas para crianças
Autor: Tiago Hakiy
Ilustrações: Maurício Negro
Editora: Paulinas
Ano: 2011
Publicado originalmente em http://blogdoprolij.blogspot.com.br/
De vez em quando um livro ladino chega sem fazer alarde e sua leitura vem devagarzinho, imagem por imagem quadro a quadro cativando e iluminando o leitor como um bom causo de compadre contado à beira do fogão à lenha e apreciado pelas crianças apinhadas ao redor do calor.
Assim é o livro de narrativa visual de Sonia Junqueira e Angelo Abu; o texto imagético carregado de humor conta a história de um gato de sítio, felino malandro e cheio de artimanhas que, para espantar seu tédio, adora pregar peças e dar sustos na bicharada do terreiro. Quando cansa de uma vítima pega outra, ninguém escapa. Até o dia que vem morar na árvore do sítio um passarinho que faz ninho e choca seus filhotes. O felino, animado com o novo inquilino e sua prole, decide que eles serão suas próximas vítimas. Porém, os planos não saem conforme o planejado, nem seus disfarces inspirados em grandes personagens felinos da literatura surtem efeito e suas investidas sobre o passarinho e seus filhotes provocam gargalhadas na bicharada e no leitor.
Para escrever em imagens essa história, Angelo Abu optou por uma paleta de cores fortes e de traços marcantes em aquarela e bico de pena , uma plasticidade que vem afirmar o temperamento desse gato peralta. A linguagem dos quadrinhos, que possibilita a inserção de várias cenas numa única página, aparece somente nos momentos de peripécias do gato. Abu usa os recursos do cinema no enquadramento das cenas, como plano aberto e o closed, que se repetem ao longo da história enfatizando as ações do protagonista (gato) de forma cômica, mas ao mesmo tempo, cria um distanciamento do restante dos personagens que permanecem fora dos quadros e assistem cheios de expectativas as traquinagens do gato com suas pobres vítimas.
Assim é Um dia, um pássaro... , uma narrativa visual contada por Junqueira e escrita em imagens por Abu que diverte leitores pequenos (ou nem tanto) por trazer uma deliciosa leitura regada a risadas, afinal, não é todo dia que se vê um bichano senhor de si colocar seu rabinho entre as patas, mesmo que seja por pouco tempo.
Dizem que os mais fortes constroem a História
O tempo é soberano, muda homens, muda pensamentos, muda destinos. Às vezes, o tempo também abre cortinas, e a paisagem que se encontrava velada se revela em detalhes preciosos, estes podem não ser o real, mas, a realidade e a verdade dependem do ponto de vista.
O livro de narrativa visual “Os donos da bola”, de Jô de Oliveira traz em seu enredo uma dessas paisagens subitamente reveladas. O autor lança um olhar novo e divertido para um tema tão banal para o brasileiro: o futebol, mas especificamente a história do futebol, sob o ponto de vista de um brasileiro.
Quem inventou o futebol com suas regras foram os ingleses. É fato. Contudo, mesmo o sendo, Jô de Oliveira muda a história desse esporte sob um novo olhar, não para questionar o instituído, mas para abrir a cortina e nos mostrar o que significa riqueza cultural e material para uma nação.
O autor narra em imagens sua versão para a história do esporte com traço caricato e carregado de preto por meio de um menino escravo no Rio de Janeiro dos oitocentos, que vê uma indígena deixar cair uma bola (que pode ser um coco ou uma bola de borracha) de seu cesto ao passar por ele numa ruela da cidade. Em meio a euforia de pegar a bola que rolava pela rua junta-se ao menino outros escravos adultos que em cabeçadas, toques de peito, e chutes vão conduzindo a bola. Nessa passagem da bola, fio condutor da narrativa, paisagens cariocas e costumes vão sendo revelados. A questão é que sem perceber, e é sempre assim, a brincadeira de escravos era observada atentamente por um estrangeiro.
Pois é, dizem que os mais fortes fazem a história. Mas, às vezes, existem momentos de reflexão em olhares que contradizem e questionam os meios nos quais ela se constrói, e nós, que somos mais espectadores do que agentes dela (a história), devemos decidir em que verdade acreditar.
OLIVEIRA, Jô de. Os donos da bola. São Paulo: Escala Educacional, 2010.
Publicado originalmente em http://blogdoprolij.blogspot.com.br/
Por Maria Lúcia Rodrigues
O livro Telefone sem fio de Ilan Brenman com ilustrações de Renato Moriconi, ganhou o prêmio FNLIJ “Melhor Livro de Imagem”. A história é apresentada num formato grande e com imagens pintadas em quadros (um quadro por página) onde o busto de cada personagem é retratado em cada quadro. O que o leitor pode visualizar quanto ao enredo é que uma personagem conta algo ao pé do ouvido para a outra da página ao lado. Parece uma narrativa visual simples, porém, os autores foram perspicazes ao criar um espaço de tempo e lugar imenso nesta simples brincadeira de telefone sem fio.
Quem começa a cochichar na história é um bobo da corte de um reino qualquer. O mundo dá voltas e as notícias vão com ele, cruzando oceanos e continentes. Este trajeto pode trazer curiosas e divertidas surpresas para nós leitores e para as personagens, algumas delas muito conhecidas de antigas leituras.
“Toda ação tem uma reação”, já dizia Newton. A ação da primeira personagem a ela retornará e, qual será o resultado da ação de um bobo da corte ao contar um segredinho para seu rei?
BRENMAN, Ilan; MORICONI, Renato. Telefone sem fio. São Paulo; Companhia das Letrinhas, 2010.
Publicado originalmente em http://blogdoprolij.blogspot.com.br/
Sabedoria da floresta para se aprender
Por Maria Lúcia Rodrigues
Os grandes mitos, os heróis de uma nação são como grandes tesouros, neles as gerações se inspiram. Assim é também com os povos indígenas. A vida em sociedade, o conhecimento de caça, pesca e as crenças partem das histórias contadas ao pé da fogueira por seus lideres, os pajés, ou payni como o povo Mawé chama seu líder espiritual. É assim as histórias contadas no livro Awiató-Pót: histórias indígenas para crianças, do autor indígena Tiago Hakiy (da tribo Mawé). São histórias contadas do grande Awiató-Pót, um guerreiro Mawé, nascido de uma bela índia transformada em cobra grande e que em noites de tempestade ganha a forma humana e de um gavião-real. São façanhas do guerreiro contadas em quatro contos: o seu nascimento, a origem da noite, Awiató-Pót e o Juma e enfim, a morte de Awiató-Pot. Além da beleza poética dessas histórias, o livro apresenta ilustrações de Maurício Negro que suscitam leitura à parte pela beleza e perspicácia na elaboração dos traços, das cores e do texto visual que apresenta. Sem dúvida um convite ao fantástico, presente em palavras e imagens neste livro. Onde cobras falam, sapos são espertos, homens viram bichos. Onde a natureza não possui hierarquias e o diferente convive em harmonia, afinal, não é em qualquer história que o tão conhecido sapo assume as rédeas e vai atrás da bela princesa passando por cima do rei, seu pai – o grande tuxaua das onças- Awyató –Pót. É bom imaginar que esse mundo de encantamentos do povo indígena do Brasil está muito vivo, e que eles podem partilhar seus ensinamentos em belos livros como este.
Obra: Awiató-Pót: histórias indígenas para crianças
Autor: Tiago Hakiy
Ilustrações: Maurício Negro
Editora: Paulinas
Ano: 2011
Publicado originalmente em http://blogdoprolij.blogspot.com.br/
Um dia às avessas
Por Maria Lúcia Rodrigues
De vez em quando um livro ladino chega sem fazer alarde e sua leitura vem devagarzinho, imagem por imagem quadro a quadro cativando e iluminando o leitor como um bom causo de compadre contado à beira do fogão à lenha e apreciado pelas crianças apinhadas ao redor do calor.
Assim é o livro de narrativa visual de Sonia Junqueira e Angelo Abu; o texto imagético carregado de humor conta a história de um gato de sítio, felino malandro e cheio de artimanhas que, para espantar seu tédio, adora pregar peças e dar sustos na bicharada do terreiro. Quando cansa de uma vítima pega outra, ninguém escapa. Até o dia que vem morar na árvore do sítio um passarinho que faz ninho e choca seus filhotes. O felino, animado com o novo inquilino e sua prole, decide que eles serão suas próximas vítimas. Porém, os planos não saem conforme o planejado, nem seus disfarces inspirados em grandes personagens felinos da literatura surtem efeito e suas investidas sobre o passarinho e seus filhotes provocam gargalhadas na bicharada e no leitor.
Para escrever em imagens essa história, Angelo Abu optou por uma paleta de cores fortes e de traços marcantes em aquarela e bico de pena , uma plasticidade que vem afirmar o temperamento desse gato peralta. A linguagem dos quadrinhos, que possibilita a inserção de várias cenas numa única página, aparece somente nos momentos de peripécias do gato. Abu usa os recursos do cinema no enquadramento das cenas, como plano aberto e o closed, que se repetem ao longo da história enfatizando as ações do protagonista (gato) de forma cômica, mas ao mesmo tempo, cria um distanciamento do restante dos personagens que permanecem fora dos quadros e assistem cheios de expectativas as traquinagens do gato com suas pobres vítimas.
Assim é Um dia, um pássaro... , uma narrativa visual contada por Junqueira e escrita em imagens por Abu que diverte leitores pequenos (ou nem tanto) por trazer uma deliciosa leitura regada a risadas, afinal, não é todo dia que se vê um bichano senhor de si colocar seu rabinho entre as patas, mesmo que seja por pouco tempo.
Obra: Um dia, um pássaro...
História de Sônia Junqueira imagens de Angelo Abu
Editora: Peirópolis
Ano: 2009
Editora: Peirópolis
Ano: 2009
Publicado originalmente em http://blogdoprolij.blogspot.com.br/
“Há muitos e muitos anos, quando o mundo era bem diferente – havia poucas cidades e as onças uivavam soltas pela mata -, nasceu um menino (...)”.
Para aqueles que não conhecem a história de Zumbi dos Palmares, Janaina Amado e Gilberto Tomé trazem até nós “Zumbi, o menino que nasceu e morreu livre”. A linguagem literária utilizada por Janaina e as imagens de Tomé tornam a história de coragem e sofrimento dessa personagem, um exemplo de luta pelo direito à liberdade e ao respeito às diferenças entre as etnias e suas culturas. O menino que vira homem guerreiro e morre defendendo seu povo, permanece lembrada até nossos dias, e sua morte virou um grito em nome da consciência de um povo belo, colorido e dançante. Tomé orna de tons pasteis o livro em composições que dialogam com o texto verbal convidando-nos a virar devagarzinho as páginas dessa história, para que jamais esqueçamos aquele Zumbi e os outros Zumbis negros, brancos e pardos de hoje que - com poesia multicor - lutam por seus direitos e pela cultura afro-brasileira. Não dá pra ser indiferente a Zumbi.
Obra: Zumbi, o menino que nasceu e morreu livre
Autora: Janaina Amado
Ilustrações: Gilberto Tomé
Editora: Formato
Ano: 2012
O preço injusto da liberdade
Por Maria Lúcia Rodrigues
“Há muitos e muitos anos, quando o mundo era bem diferente – havia poucas cidades e as onças uivavam soltas pela mata -, nasceu um menino (...)”.
Para aqueles que não conhecem a história de Zumbi dos Palmares, Janaina Amado e Gilberto Tomé trazem até nós “Zumbi, o menino que nasceu e morreu livre”. A linguagem literária utilizada por Janaina e as imagens de Tomé tornam a história de coragem e sofrimento dessa personagem, um exemplo de luta pelo direito à liberdade e ao respeito às diferenças entre as etnias e suas culturas. O menino que vira homem guerreiro e morre defendendo seu povo, permanece lembrada até nossos dias, e sua morte virou um grito em nome da consciência de um povo belo, colorido e dançante. Tomé orna de tons pasteis o livro em composições que dialogam com o texto verbal convidando-nos a virar devagarzinho as páginas dessa história, para que jamais esqueçamos aquele Zumbi e os outros Zumbis negros, brancos e pardos de hoje que - com poesia multicor - lutam por seus direitos e pela cultura afro-brasileira. Não dá pra ser indiferente a Zumbi.
Obra: Zumbi, o menino que nasceu e morreu livre
Autora: Janaina Amado
Ilustrações: Gilberto Tomé
Editora: Formato
Ano: 2012
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