A
NARRATIVA VISUAL EM LIVROS NO BRASIL: UMA BRINCADEIRA DE GENTE GRANDE
Maria
Lúcia Costa RODRIGUES[1]
Sueli
de Souza CAGNETI[2]
Resumo:
Este estudo faz uma reflexão sobre a narrativa visual em livros no Brasil,
procurando compreender de que forma esse gênero contribui na formação leitora
das crianças e não somente delas. O estudo analisa também, por meio dos
processos de leitura que contemplam conceitos da cultura verbal e visual, o
livro “A raça perfeita”, de Angela Lago e Gisele Lotufo, como literatura que
ultrapassa as fronteiras dos livros para infância.
Palavras
chave: Narrativa visual. Literatura Infantil. Cultura
visual.
Abstract:This study
reflects about the visual narrative in Brazilian books, to understand the way
this literature contributes on the reading formation of the children and not
only them. The study also analyses,
through the process of reading that contemplates concepts of verbal and visual
culture, the book “A raça perfeita”, by Angela Lago and Gisele Lotufo, as a
literature that goes beyond the frontiers of child books.
Keywords: Visual narrative. Children’s
Literature. Visual culture.
Gostaria
de encontrar aquele livro: das páginas desenhadas no descanso do tempo, onde as
palavras prenunciariam em sussurros, o desejo de aventura, de sentir, de emocionar
e de revoltar-se. Um livro que, depois do imediato encantamento da capa, seria
aberto para outro mundo, aquele da infância: do reino do faz de conta, da toca
do monstro, do castelo da princesa, dos seres da floresta, dos animais
falantes, dos cavalheiros e de todos os magos e bruxas, do herói ou heroína e
seus grandes feitos.
Pergunto-me
se os livros para infância continuam abordando dessa forma o texto visual e
verbal como quando dos contos maravilhosos e dos contos fantásticos. Mal sabem
os pais que os lobos procuram emprego, as princesas procuram seus reinos, as
fadas são politizadas, os sapos podem virar príncipes, mesmo que – às vezes -
governem como sapos. Os temas recorrentes na literatura infantil, pouco tem a
ver com contos maravilhosos - embora eles estejam aí, resistindo à roda do
tempo.
As últimas décadas de produção
literária, tanto no Brasil como no mundo, tem mostrado a ascensão da Literatura
Infantil. Dentro desse universo de livros infantis o texto imagético vem ganhando maior autonomia - muitas vezes ocupando todo o espaço do
texto verbal. Esses aspectos mostram que os espaços conquistados pela
Literatura Infantil precisam encontrar formas de conviver com o outro lado
desse universo da imagem: o do livro como mercadoria acima de tudo. Essa reflexão vem ao encontro das questões
que volta e meia abrem espaços de discussão no meio acadêmico educacional: a
influência da imagem no que se refere à decisão do consumidor sobre aquisição
de um produto. Isto obviamente ocorre com o livro infantil também.
É uma característica natural da
imagem seduzir o olhar: as cores e formas, o formato do livro, tudo contribui para que a imagem juntamente
com o título, capture o interesse leitor. E isso não é valido apenas para os
pequenos leitores, a indústria livreira vem, há décadas, fazendo uso desse
artifício para todos os gêneros.
A
ilustração em capas de livros está diretamente ligada à literatura para
crianças. Este procedimento, mais tarde, foi adotado pela indústria de livros
para todos os gêneros, pois se constatou que a capa ilustrada é uma importante
ferramenta de venda. Há de se comentar que nas duas primeiras décadas do século
XIX a ilustração assumia o papel de venda e decoração. Por isso esse período
foi classificado pelos historiadores de Literatura Infantil como a “Era da Frivolidade” (POWERS, 2008, p.16).
Isso
não é um fator negativo de forma alguma, contudo muitas vezes, livros belíssimos visualmente trazem textos
literariamente pobres, ou seja, com pouca poesia e não ultrapassam os muros do
óbvio, com imagens que apenas reproduzem o texto verbal ou o seu contrário.
A imagem
é texto tão importante quanto o verbal, contudo, em um livro formado por
diferentes textualidades, a priorização de um sobre outro, sem considerar a
completude de um livro para crianças, incorre em possíveis falhas na formação
dela como futuro leitor. Para ler um livro-ilustrado onde texto verbal e o
visual dialogam, é necessário levar em consideração as diferenças entre um e
outro. Na escritura verbal o olhar percorre linearmente as páginas sem que a
virada da folha interfira no fluxo narrativo. Com o texto visual o olhar não
tem direção pré-determinada, cada imagem é construída de forma que o olhar se
guie pelos pontos de tensão da composição. Esses pontos podem estar na cor, na
forma, nas texturas presentes na imagem.
A
linguagem narrativa visual em livros é um texto completo que não necessita da
escritura verbal, a não ser como índice (título da obra). Por isso, busca-se
compreender de que forma esse gênero - que é recente e faz parte da Literatura Infantil
brasileira (pouco mais de trinta anos) -, pode contribuir na formação leitora
das crianças e não somente delas. Além disso, quais temas são abordados por
essa linguagem que - de forma silenciosa - mas firme - vem conquistando seu
espaço como literatura e arte visual, através de linguagens hibridizadas.
Ao
longo dos anos de estudo do gênero percebe-se o uso de inúmeros termos para
essa linguagem, caracterizada por histórias contadas apenas em imagens, o que
demonstra a dificuldade de categorizá-lo enquanto gênero diferenciado que vem
se consolidando dia após dia. Entre a nomenclatura encontrada, pode-se
destacar, como mais recorrentes: livro sem texto, história sem palavras, livro
de imagem, história muda, livro de ilustração, álbuns de figura, narrativa
visual e, mais recentemente, livro-imagem.
A
escolha do termo “narrativa visual”
para esse gênero deve-se ao fato de que a imagem vai, necessariamente, contar
uma história, contendo todos os elementos de uma narrativa literária, que
independe da linguagem escolhida - verbal ou visual-, no suporte livro ou em
outros. Para os autores que se dedicam à análise literária narrativa, esta, contém elementos próprios que a distingue como
tal. A falta de alguns desses elementos fazem com que ela perca o sentido. É
possível dizer que:
[...] a maioria das pessoas é capaz de
perceber que toda narrativa tem elementos fundamentais, sem os quais não pode
existir; tais elementos de certa forma responderiam às seguintes questões: O
que aconteceu? Quem viveu os fatos? Como? Onde? Por quê? Em outras palavras a
narrativa é estruturada sobre cinco elementos principais: enredo, personagens,
tempo, espaço, narrador. (GANCHO, 1991, p.5)
As imagens da arte ou da fotografia, por
exemplo, podem conter grau narrativo, porém, na maioria das vezes não possuem a
sequência e todos os elementos que as constituem como narrativas com começo,
meio e fim. Uma imagem única fornece índices que podem ser transformados em um
texto narrativo. Já a narrativa visual é um texto completo, não necessita de
reforço verbal, mas de interpretação, como qualquer texto literário.
Os
livros que contam histórias apenas por imagens possuem todos os elementos estudados
na narrativa literária, com o sentido lógico construído a partir de um enredo,
normalmente apresentando um fio condutor, que pode ser uma personagem ou um
objeto; pode estar situado num tempo determinado cronologicamente,
psicologicamente ou em ambos, e num determinado espaço. Além disso, a narrativa
visual possui diferenças sutis em relação a qualquer outra imagem de cunho
narrativo, talvez por isso gere problemas quanto à sua conceituação, que não é
fechada.
As
obras artísticas de qualquer linguagem (visual, literária, cinematográfica)
possuem caráter aberto e complexo - não no sentido de difícil, mas de condição
transcendente; essa condição permite diversas leituras em diferente tempos, o
que possibilita a formulação de análises que as tornem relevantes para a compreensão das linguagens que
traduzem o homem e o mundo, portanto, a obra literária não foge à regra.
Como
podemos identificar as características que tornam literatura uma narrativa
visual? Primeiramente literatura é arte, e como tal se diferencia das demais
escrituras:
A escritura
literária se diferencia da escritura que se acha a serviço de fins
informativos, científicos, publicitários, pedagógicos, políticos, etc., pelo
fato de escapar ao horizonte da contemporaneidade. A escritura literária se
liberta da divisão dos papéis da vida real e da responsabilidade limitada a
eles, não se submete à regra do discurso funcional e produtivo [...](PONZIO,
2007, p.221)
Diante desse esclarecimento
é fácil perceber que dentro da produção atual em livros para criança,
colocar-se diante de um expositor de livros e escolher o que tem todas essas
especificidades não é tarefa simples. Dificuldade maior está em compreender os
códigos imagéticos que tornam poética a imagem narrativa, pois esta circula em
um espaço destinado à escritura verbal, seja informativa ou literária, e se
configura sob esses dois aspectos também.
Antes
da ascensão dos meios de comunicação de massa, os signos, as fotos, os textos
praticamente não se misturavam, eram estratificados. Depois do jornal,
“palavra, foto, diagramação passam a conviver em sintaxes híbridas, resultantes
da habilidade de manipular as linguagens de uma forma visual e espacial”
(SANTAELLA, 2007, p.9).
Na narrativa verbal a hibridação acontece no
uso do tempo e do espaço que é próprio também da linguagem sonora, além das
várias leituras que deram origem aos textos - característica cada vez mais
comum na pós-modernidade-, ou seja, cada vez mais o leitor precisa ter uma
bagagem de leitura de múltiplos gêneros para entender as entrelinhas do texto
imagético e do texto verbal.
Na
narrativa visual essa hibridização aumenta de grau, pois nela é possível ter as
características sonoras no ritmo de leitura, em pontos de tensão e no tempo; no
uso de um roteiro verbal para a sequência das imagens narrativas, elemento
apropriado do teatro e do cinema e o uso dos elementos da narrativa literária:
enredo, tempo, espaço, personagem e narrador. Todas essas características geram
a dinamicidade na narrativa.
A imagem tem a função de narrativa, quando
percebemos uma mutação sequencial da figura com um sentido claro, ou quando
apresenta uma determinada ação. Aparece nas cenas religiosas da Idade Média (bíblias pauperum e retábulos) nas
histórias em quadrinhos e nos livros de literatura Infantil e Juvenil.
Manguel, um teórico referência no meio artístico, discute a
leitura de imagens e vê mudanças na concepção das imagens narrativas na
história da arte que, talvez, possam auxiliar na compreensão do por que do uso
generalizado do termo na arte visual e na literatura:
Formalmente, as narrativas existem no
tempo e as imagens no espaço. Durante a idade média, um único painel poderia
representar uma sequência narrativa, incorporando o fluxo do tempo nos limites
de um quadro espacial, como ocorre nas modernas histórias em quadrinhos, com o
mesmo personagem aparecendo várias vezes em uma paisagem unificadora, à medida
que ele avança pelo enredo da pintura. Com o desenvolvimento da perspectiva, na
Renascença, os quadros se congelam em um instante único: o momento da visão tal
qual como percebida do ponto de vista do espectador. A narrativa, então passou
a ser transmitida por outros meios: mediante “simbolismos, poses dramáticas,
alusões a literatura, títulos”, ou seja, por meio daquilo que o espectador, por
outras fontes, sabia estar ocorrendo. (MANGUEL, 2001, p. 24)
Na Renascença essa narrativa passa a não ser completa; a imagem tem um grau narrativo apenas, porque lhe faltam
elementos, ela não se traduz em si mesma, necessita de outras referências para
que se complete, ela possui índices narrativos e pode não ser considerada uma
narrativa visual.
A narrativa visual em livros se aproxima da narrativa
verbal, pois segundo, o inicio e fim do livro não estabelece os
limites para o texto, ele transcende esse espaço e nunca vai existir
integralmente em nossa mente, mas apenas em flashes, pequenos recortes de
textos que resumiram a obra. (Manguel, 2001)
No
caso da escrita verbal, a narrativa descreve
uma cena em palavras, as imagens nesse caso se formulam mentalmente no leitor.
Na imagem como representação, a história será narrada na seqüência das cenas e
poderá ser oralizada conforme o universo particular de quem lê.
Para
Oliveira (2008), renomado ilustrador brasileiro, toda imagem tem uma história
para contar, e pode apenas oferecer ao leitor algum índice, alguma forma que
“abra espaço para o pensamento elaborar, fabular e fantasiar” para que aconteça
uma narração. Portanto, para Oliveira uma narrativa visual pode acontecer em
uma única imagem, porém, ela continuará dependendo de outros meios, como os
descritos por Manguel (2001).
Embora
haja essas discordâncias nas nuanças que classificam a narratividade da imagem,
reforça-se neste estudo o lugar a que pertence o gênero, a literatura, e como
tal deve conter os conceitos já expostos: enredo, tempo, espaço, personagem e
narrador, e ainda conter as características de escritura literária, como
aquelas expostas por Ponzio (2007).
Essa
linguagem em livros é nova no Brasil, por esse motivo sua classificação é
confusa. Suas primeiras publicações datam do final da década de 1970, inicio da
década de 1980, consolidando-se definitivamente, quando a Fundação Nacional do
Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ - no ano de 1981, abriu o prêmio “Luis
Jardim”- melhor livro de imagem. Os primeiros a ganharem esse prêmio foram
Juarez Machado, com o livro Ida e Volta, e Eva Furnari com a coleção “Peixe-vivo” (constituída pelos títulos Cabra-cega,
De vez em quando, Todo dia e Esconde-esconde).
Está em
Juarez Machado o pioneirismo na narrativa visual em livros no país. Em 1969 ele desenhou o livro, Ida e
Volta, porém, este foi publicado
apenas em 1975, em uma “coedição Holanda/Alemanha; em seguida na França,
Holanda e Itália” (CAMARGO, 1995, p.71). Somente
em 1976 ele lançou o livro no Brasil pela editora Primor e, posteriormente,
pela editora Agir. Em 1977 o livro foi publicado no Japão, onde recebeu o
prêmio “Nakamore Prize”, melhor livro
infantil. É indiscutível até hoje, depois de tantos anos, a qualidade desse
trabalho. Desde então, o gênero vem se consolidando cada vez mais, com produção
contínua de títulos.
Além de
Juarez Machado há outros autores que trabalham com a narrativa visual. São trabalhos riquíssimos que contam boas histórias e
envolvem o leitor com belas imagens. Entre eles estão: Ângela Lago, Eva
Furnari, Roger Mello, Marcelo Xavier, Rui de Oliveira, Fernando Vilela, André
Neves, Nelson Cruz e tantos outros.
Ao analisar a produção de narrativas
visuais no país por meio de um estudo mais
aprofundado dos títulos premiados entre
os anos de 1981 (ano em que a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil-
FNLIJ, lança o prêmio “Luis Jardim”- melhor livro de imagem) e 2008, é possível
transitar por entre inúmeras temáticas: adaptações de contos, crítica social,
realismo social, informação, poesia, humor,
entre outras.
Alguns
desses títulos são de difícil classificação, transcendem às características de
livros de narrativa visual destinado à infância e juventude, são livros de
grande sensibilidade estética que deixam o leitor com aquela interrogação
persistente, própria de uma obra de valor artístico, que possibilita a leitura
atemporal pela característica aberta e repleta de símbolos do universo que
representa.
A
história da ilustração tem mostrado que os fazedores de livros para crianças
são em grande parte artistas, embora, fazer narrativas visuais utilizando esse
suporte, esteja diretamente ligado a um
mercado editorial. Muitos artistas, no entanto,
conseguem transpor essas barreiras,
impossibilitando o fechamento da gaveta, seja pela forma como constrói a
narrativa visual, com todos os seus signos representativos, seja na
conscientização de que o livro, como objeto, tem dimensões de tempo e espaço.
Muitos desses títulos são difíceis de classificar em faixa etária.
Como
a narrativa visual é um gênero da Literatura Infantil e por uma questão de
classificação e facilidade de catalogação, todos os livros de caráter narrativo
visual são colocados na mesma gaveta. Esse estudo não acrescentaria valor se
não estudasse os títulos que não cabem nela. Tanto porque, esses títulos não
têm público específico, vão da tenra idade ao mais sensível dos anciões.
Contudo, apenas as pessoas envolvidas diretamente no meio literário infantil e
na produção de imagens gráficas, tem acesso facilitado a esses títulos.
Analisar obras com esse caráter transcendente significa discutir uma maior
valorização dessa linguagem como bem cultural que apresenta discursos que
dialogam com a cultura visual e a cultura verbal.
Alguns autores têm facilidade de
transitar entre os universos infantil,
infanto-juvenil e adulto. Um exemplo é Ângela Lago. Ela não faz narrativas
visuais pensando em quem as lerá. Seus temas são diversos: dos infantis aos
contos, às poesias e à crítica social.
Lago, em seus trabalhos, adota muito dos
recursos espaciais utilizados pelas crianças nos seus desenhos para construir
suas ilustrações como, por exemplo, acentuar nitidamente diferenças de tamanho
conforme hierarquia, ou um enquadramento de cena panorâmico, onde a visão do
leitor é de cima para baixo, o que possibilita a inserção de mais cenas e
elementos num único quadro.
Lago
brinca com o leitor, sua narrativa é de poeta, brincadeira de esconde, revela.
Seus livros pedem sempre uma nova leitura. Reverencia o amor e dá-lhe notas de
sagrado como em O Cântico dos Cânticos, com páginas desenhadas igual ao livro
desejado, aquele... “desenhado no
descanso do tempo” lembrando iluminuras raras encontradas no acervo de um velho
mosteiro, algo proibido, e por assim ser, fascinante.
Poder-se-ia
dizer que a sua forma de escrita, construindo narrativas paralelas à narrativa central, para pequenos personagens
como: pássaros, formigas, caracóis e sapos a aproximam da poesia de Manoel de
Barros que engrandece as coisas miúdas e gosta de “chegar ao criançamento das palavras”
(BARROS, 1996, p.47). Assim são, Outra
vez e Chiquita
Bacana e as outras pequetitas.
Além dos
contos, da fantasia e da sagração ao amor pela poesia, os discursos de Lago
caminham também pelo terreno do social - sem demagogias e finais felizes-, seu discurso é árido e verdadeiro. Assim são, Cenas de Rua e A raça perfeita, é nesse último que o estudo procura se aprofundar.
É no livro de narrativa visual A Raça
Perfeita de Ângela Lago em parceria com Gisele Lotufo, que se faz a
reflexão sobre o processo de construção dessa narrativa que contempla a
escritura literária, descrita por Ponzio(2007) e os elementos narrativos
citados por Gancho (1991). Além de evidenciar que a análise de um discurso
visual, tanto quanto o verbal, não é leitura fechada. Os discursos visuais são
aqui entendidos como “práticas culturais” e como tal estão submetidas a
“relações de poder”, (HERNANDEZ, 2007, p.79).
A Raça Perfeita: leitura analítica
As
imagens são representações da sociedade, cujos
discursos refletem visões de mundo que serão compreendidas a partir do olhar do
outro e de suas próprias representações.
Quando somos crianças, um universo
representativo se descortina aos nossos olhos, as imagens são nosso primeiro
elo com o mundo das linguagens. Saber ler e procurar compreender os signos
presentes nas imagens, num olhar que permaneça aberto em todas as fases da vida,
pode auxiliar e muito na compreensão de mensagens implícitas em qualquer texto,
visual ou verbal.
Há
algumas formas de ler um livro de narrativa visual: pode-se ler na sequência
das páginas formando mentalmente a história, sem a preocupação com a direção do
olhar e com o tempo; pode-se ler dialogando com a narrativa e percebendo se há
uma ou mais narrativas, ou então, qual ou quais os eixos narrativos
unificadores da história que dão sentido de continuidade - pois é preciso
atentar para o objeto livro que tem as viradas de páginas que indicam passagem
de tempo. Contudo, como qualquer boa literatura, a releitura é fundamental para
a compreensão dos signos visuais.
Os
procedimentos metodológicos que serão utilizados não devem servir como forma de
compartimentar o pensamento e racionalizar a leitura. Ela serve apenas para
nortear essa análise, pois, deve-se lembrar que, uma obra é feita para muitas
formas de leitura, contudo, procuraremos adotar a postura defendida por Hernandez
para a compreensão da cultura visual, a de “assumir uma “metodologia visual
crítica e performativa”, ou seja, que tem como finalidade “contribuir para a constituição de um novo
sujeito de conhecimento, o sujeito performático, que se constrói [...], de forma
fragmentada, descentralizada” (HERNANDEZ, 2007, p.79). Um sujeito que vive uma das condições da
pós-modernidade: o de ser sujeito de imagens.
Como
A raça perfeita é um texto imagético,
para uma análise, procurou-se entender como as autoras materializaram o tema
gerador, percebendo como as imagens foram
construídas, qual técnica foi escolhida, como os elementos narrativos
literários estão presentes e, por fim, qual discurso que está por trás da imagem, procurando relações com outros
discursos que contextualizem o tema numa abordagem reflexiva. Por esse caminho a análise pretende seguir.
Elementos
narrativos em A raça Perfeita
Analisando
a obra sob a ótica literária, ela possui todos
os elementos que a traduzem como gênero narrativo, a
começar pelo enredo:
O
livro conta a história de um cientista (que pode ser identificada como mulher,
por uma inscrição embaixo de sua mesa), que procura produzir em seu laboratório
o cachorro que teria a raça perfeita, e que poderia lhe trazer muitas premiações
pelo feito. Á medida que transcorrem suas experiências de misturar as raças de
cachorros entre si e entre outros animais (borboleta), os erros vão aparecendo
e sendo descartados na lata de lixo, até o momento em que ela coloca vários
cachorros em uma centrífuga, que pela alta velocidade, mistura partes de um
cachorro com partes de outros, formando novos seres. Mas, para chegar à raça
perfeita, muitos sacrifícios se farão necessários. O ápice da história acontece
quando o cientista consegue criá-la. Prêmios são conquistados, contudo, a raça
perfeita volta-se contra seu criador e domina o meio liderando o grupo de
cobaias e conduzindo-as a um novo começo.
Os
personagens da história são um cientista, que aparece sempre com o rosto
borrado impossibilitando sua identificação e muitos cachorros cobaias. O espaço
e o tempo onde acontece o enredo são determinados por um laboratório de
pesquisas cientificas, num tempo atual, identificado pelos equipamentos
laboratoriais. As autoras possivelmente
situam a história no Brasil, isso porque as únicas cores, o verde e o amarelo
(presentes na capa, segunda e terceira capa, e no verso da quarta capa) são as cores da bandeira brasileira e elas são colocadas como que
para guardar a narrativa que se desenrola toda em fotografias em preto e
branco.
O
narrador em A raça perfeita é
onisciente, ele narra a cena ora de cima, ora à altura do cientista, ora de
baixo. Há momentos em que emite opinião, como no momento em que o cientista
joga na lata de lixo sob sua mesa, os seus experimentos que não deram certo. O
enquadramento dessa cena é de baixo para cima, tornando possível ver uma
inscrição, feita com algo cortante no fundo do tampo da mesa, cujo desenho
representa uma bruxa com nariz adunco e chapéu, acompanhado dos dizeres “mesa
da bruxa”. Este é um forte indício de que pode tratar-se de uma cientista.
Os procedimentos técnicos de
construção da imagem: criando textos e dialogando com o enredo.
As
autoras escolheram uma técnica que traduz brilhantemente o tema gerador do enredo:
imagens fotográficas manipuladas. Elas
são dispostas uma para cada duas páginas tomando quase todo o espaço, restando
apenas uma fina moldura preta; assim - a
cada virada - uma nova ação dá
continuidade ao enredo.
O título do livro, por sua vez, aparece com várias
tipologias, o que pode indicar a mistura, a miscigenação. Além disso, a forma como o titulo aparece
escrito pode indicar tanto uma raça considerada perfeita, como uma raça a ser
criada.
Quanto
ao protagonista da história, o cientista, este é representado por uma
personagem de jaleco branco e rosto borrado, sua identificação remete aos contos
infantis e o coloca como a moderna bruxa, com seus experimentos e poções. Este
é um fator fundamental para a interpretação do texto visual já que a inscrição
da mesa é a representação estereotipada da bruxa.
Os
animais são tanto manipulados pelas autoras quanto pela cientista protagonista,
através dos recursos de manipulação de imagem digital da época. Elas conduzem o
enredo misturando e enfatizando expressões nos cachorros, borrando o rosto do
cientista, ocultando sua a identidade.
Quanto
ao tema gerador, o livro foi publicado em 2004, trata de pesquisas científicas
com animais, podendo apresentar conotação de denúncia. O volume foi editado num
momento onde estavam em alta as discussões sobre bioética, envolvendo
células-tronco, quimeras humano-animais, o brincar de Deus chegando cada vez
mais perto da realização. A arte antecipa esse desejo de ser Deus:
Somos lembrados da
proposta arquitetônica de Bauhaus, que possibilita a bricolagem como
referencial estético. Assim os seres vivos podem ser bricolados, apresentando
exteriormente, ou não, um novo design. A
arte e a arquitetura pós-moderna trabalham com a superposição de realidades
distintas, onde seres virtuais e reais se confundem. Semelhantemente, na biotecnologia, seres
completamente diferentes, ontologicamente distintos, são redesenhados e
reconstruídos recebendo uma identidade diferente daqueles seres que lhe deram
origem (WESTPHAL, 2004, p. 46).
O
enredo suscita mais de uma analogia: pode ser uma nova eugenia, ou seja, a
criação do homem perfeito fruto da bioengenharia. Sendo assim, essa análise
suscitaria grandes reflexões sobre a bioética em pesquisas na
contemporaneidade, o que resultaria em outro artigo. Ou poder-se-ia caminhar
para uma reflexão sobre a soberania da ciência e dos poderes instituídos que,
acima da ética, procuram, ao longo da modernidade e pós-modernidade, dominar a
natureza (e nessa está o homem) tratando-a como objeto de exploração, assunto
para outro artigo; ou ainda que a raça criada e tida como perfeita para a
cientista, não passa de um vira lata, ou seja, um cachorro sem raça definida
devido as inúmeras misturas, como parece ser o cachorro que as autoras
escolheram para representar a perfeição, lembrando talvez a relação paradoxal
do contexto de misturas raciais que
formam o povo brasileiro.
O
livro A Raça Perfeita é um convite à
reflexão, mas acima de tudo, nos mostra que a narrativa visual em livros
destinados às crianças e jovens é uma linguagem que merece ser estudada por sua
capacidade múltipla de leitura - transcendendo os espaços destinados a ela,
podendo ser lida como imagem pertencente à cultura visual ou como gênero da
Literatura Infantil, podendo ainda ser lida e interpretada de diferentes
maneiras e por distintas culturas.
Não
cabe aqui determinar soberanamente se esse livro é atrativo para crianças. O
artista não deve se preocupar com quem lerá sua obra. As opiniões divergem com
freqüência nesse meio literário infantil, pois se sabe que as obras destinadas
às crianças são feitas por adultos que vivem distintas culturas, diferente da
cultura da infância que possui suas especificidades. Hunt (2010) discute sobre
leitores adultos e sua visão com relação aos livros para a infância, e ainda,
sobre os que recomendam livros para esse público, fazendo uso das palavras do
Ilustrador Roger Duvoisin:
Com sua visão
desinibida, as crianças não veem o mundo como nós. Enquanto vemos apenas o que
nos interessa, elas veem tudo. Elas ainda não fizeram nenhuma escolha [;] a
criança também tem propensão a apreciar esse seu modo detalhado em termos de
acontecimentos, de coisas sendo feitas ou, em outras palavras, em termos de
histórias. (HUNT, 2010, p.241)
O
que se pode dizer é que, dar livros com imagens e textos que reforcem
estereótipos para as crianças, é abrir caminho para que seu olhar permaneça
nessa leitura estereotipada, o que estará, no mínimo, criando possibilidades
maiores de formatar o pensamento dela ao limitar seu potencial leitor.
As
personagens dos livros para infância mudaram. Afinal, parece muito mais natural
conviver com bruxas cientistas, com lobos em crise financeira e existencial,
com príncipes nem tão príncipes assim. Quanto à imagem narrativa, ela é
cúmplice do olhar descobridor da criança e aliada no processo (qualitativo) de
formação leitora em qualquer idade.
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[1] Mestre em Patrimônio cultural
e Sociedade; Pesquisadora Voluntária do Programa de Literatura Infantil e
Juvenil – PROLIJ – Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE - Joinville – SC
[2] Doutora em
Letras/Literatura/ USP; pesquisadora e professora do Mestrado em Patrimônio
Cultural e Sociedade e coordenadora do Programa de Literatura Infantil e
Juvenil - PROLIJ - Universidade da
Região de Joinville – UNIVILLE -
Joinville – SC- Brasil.
Publicado originalmente em:
CONSTRUÇÕES LITERÁRIAS ACERCA DA
NARRATIVA MEMORÍSTICA: UM CRUZAMENTO ENTRE A ESCRITA VERBAL E A VISUAL NA OBRA
APENAS UM CURUMIM
SILVA, Silvio Leandro 1 –
UNIVILLE
RODRIGUES, Maria Lúcia
Costa 2 – UNIVILLE
CAGNETI, Sueli de Souza 3 - UNIVILLE
Eixo Temático: Cultura, currículo e saberes
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
A linguagem, desde antigas civilizações, tem uma
representatividade preciosa para a história da humanidade por salvaguardar
aquilo que a materialidade não dá conta de preservar. Tem-se, portanto, na
imaterialidade grande parte das vivências das histórias de antepassados. A
literatura se apropriou (e ainda o faz nos dias atuais) desses relatos,
coletando-os e sistematizando através dos recursos que lhes são próprios. A
estrutura literária, seja ela verbal ou visual, tem procurado dar lugar às
memórias, incorporando-as nas histórias de seus personagens. A intenção das
narrativas presentes em Apenas um Curumim
é a de conduzir o leitor a uma experiência artística, porém, acaba por
envolvê-lo numa trama de identificação, quando apresenta um enredo em que o
resgate e a manutenção das lembranças e cultura de um grupo são latentes. A
experiência vivida pelos personagens na história instiga um retorno a vivências
internas e externas de quem lê a obra, daí a importância de se perceber,
através de uma abordagem analítica, os signos e recursos narrativos acerca do
processo mnemônico. Objetiva-se, com essa abordagem, o estabelecimento de um
paralelo entre a narrativa verbal contada por Werner Zotz, a narrativa visual
de Andréas Sandoval e as teorias referentes às reminiscências individuais e
coletivas em diferentes autores. Pois, é imprescindível entender os processos
constitutivos da linguagem visual e da linguagem verbal e suas relações quanto
a construções de diálogo ao dividirem os mesmos espaços dentro do livro,
principalmente na literatura infantil e juvenil. Os resultados apresentados nos possibilitam
perceber que olhares minuciosos e sensíveis perpassam o efeito estético da
obra, sendo conduzidos a percepções ampliadas para aquilo que nos diz respeito
como indivíduos ou atores sociais que preservam suas vivências.
Palavras-chave: Literatura infantil e juvenil. Memória. Narrativa Visual. Identidade.
Introdução
Todos têm lembranças e resquícios de tempos passados, sejam eles remotos
ou não. São passagens tão íntimas que atravessam diversas fases da vida, nos
acompanhando constantemente. É bastante comum que esses acontecimentos produzam
elementos materiais, que são responsáveis pelo sustento e pelo ato de instigar
a memória. Quando existe esta base de sustentação entre passado e presente, a
produção material é o elo que permite a visualização e a associação dos fatos
ocorridos com elementos encontrados em nossa vivência atual.
A cultura material é uma necessidade fisiológica e/ou emocional do ser
humano, que cria e se apega a um objeto para sanar uma necessidade, ou, para
guardar como uma recordação de um momento marcante em sua vida. Conscientemente
ou não, os indivíduos buscam nos meios materiais a legitimação de suas
lembranças. Assim, cada um compõe a sua trajetória, através de fotos,
documentos escritos, objetos ou utensílios.
Constrói-se, ainda, uma memória coletiva, que tem suas bases nos
acontecimentos que permeiam as histórias pessoais e se inscrevem nos fatos
históricos. As representações destes marcos históricos estão nos monumentos,
construções, obras de arte, documentos e objetos guardados em instituições
públicas (arquivos, bibliotecas e museus).
Por meio do contato com as narrativas orais, visuais, e verbais cria-se a
possibilidade de remetimento a um determinado momento e a sensação de vivenciar
o período delimitado. A literatura permite perfazer este caminho com muita
propriedade, pois sua linguagem convida a acompanhar a vida de uma personagem,
sua trajetória e os conflitos por ela vividos e ao narrador compete escolher de
que forma vai conduzir o leitor. Ele cria toda uma estrutura de vida, que
muitas vezes possibilita perceber a história e as lembranças que este ser leva
consigo, exibindo assim seu caráter de narrador onisciente.
O estudo procura estabelecer uma conexão com áreas afins, pensado numa
proposta que possibilite uma abordagem acadêmica, estreitando laços entre
história, arte literária e visual como campos do pensamento que veem a
necessidade de uma análise sobre os conflitos, os caminhos e as relações
sociais do ser humano. Para tanto foi selecionada a obra de Werner Zotz, Apenas um curumim, com ilustrações de Andréas Sandoval, atentando para os signos que representam e traduzem o tema
memória em palavra e imagem. A escolha por essa abordagem tem por objetivo
dialogar acerca dos problemas vivenciados pela cultura indígena, como exemplo
de povos que sofreram uma perda geral dos elos sociais dos quais a memória se
constrói.
Memória e identidade: agentes constitutivos e tipologia
Muitas são as sensações vividas pelos sujeitos durante sua trajetória de
vida. Emoções são constantemente afloradas e revertidas em ações ou lembranças.
O processo mnemônico (de retenção ou
manutenção da memória) é inerente aos acontecimentos marcantes e ao grau de
importância que se dá a eles.
Para Bosi (1999, p. 47),
a memória pode ser entendida como uma “reserva crescente a cada instante e que
dispõe da totalidade da nossa experiência adquirida”.
Nem
sempre, contudo, as sensações levadas ao cérebro são restituídas por este aos
nervos e aos músculos que efetuam os movimentos do corpo, as suas ações. Nem
sempre se cumpre o percurso de ida e volta pelo qual os estímulos do cérebro, e
desta voltam, pelos diferentes, à periferia do corpo. Quando o trajeto é só de
ida, isto é, quando a imagem suscitada no cérebro permanece nele, “parando”, ou
“durando”, teríamos, não mais o esquema imagem-cérebro-ação, mas o esquema
imagem-cérebro-representação. O primeiro esquema é o motor. O segundo é o
perceptivo. (BOSI, 1999, p. 44)
O movimento que leva a recordar está segundo alguns autores,
caracterizado e dividido em duas possibilidades que não devem ser confundidas
ou generalizadas. Para Ricoeur (2008), a lembrança, está classificada como:
hábito e memória. Apesar da aproximação, o autor aponta suas especificidades:
Nos dois
casos extremos, pressupõe-se uma experiência anteriormente adquirida; mas num
caso, o do hábito, essa aquisição está incorporada à vivência presente, não
marcada, não declarada como passado; no outro caso, faz-se referência à
anterioridade, como tal, da aquisição antiga. Nos dois casos, por conseguinte,
continua sendo verdade que a memória “é do passado”, mas conforme dois modos,
um não marcado, outro sim, da referência ao lugar no tempo da experiência
inicial. (RICOEUR, 2008, p. 43)
Tempo e intensidade, são fatores decisivos na distinção entre os gêneros
sugeridos pelos autores que veem a lembrança como Ricoeur. O próprio autor, em
sua obra, cita Henri Bergson, apontando a divisão da memória em memória-hábito
e memória-lembrança.
O hábito é inserido no cotidiano em momentos tão banalizados, que não se
percebe sua presença. Os indivíduos são, mecanicamente, regidos por costumes e
repetições de afazeres. São portas fechadas, luzes apagadas, horários
cumpridos, alimentação, higienização e uma infinidade de atribuições que
constituem sujeitos pautados na temporalidade.
A lembrança é marcada por simulacros. Essa percepção, daquilo que passou,
é pautada na valorização do acontecimento. A importância dada ao fato fará do
sujeito, um ser que construirá seus signos, demarcando um território de forma
consciente e inconsciente. Ao recordar (voluntariamente ou não), há uma
submissão a imagens e percepções que acarretam uma série de informações sobre o
passado. Vivencia-se, dessa forma, a “presença do ausente” (RICOEUR, 2008, p.
28).
Semelhanças e diferenças são pontos básicos para conflitos e aproximações
que conduzem o processo histórico. São em movimentos comparativos que os
sujeitos realizam a construção de suas identidades. Esta aproximação, com
realidades distintas (ou não), resulta nas escolhas que sustentam e legitimam a
história de cada ser humano. O ponto de maior consideração do sujeito, ao
comparar sua realidade com outras é a aproximação com a sociedade em que está
inserido. Apesar dos avanços e da liberdade alcançada pelas sociedades (no que
se refere à individualidade), não se pode descartar que indivíduos são frutos
de uma sociedade e, portanto, são as perspectivas deste grupo que prevalecem.
O diálogo com o outro se faz necessário, pois é através deste contato que
se abrem possibilidades na compreensão de quem se é e das estruturas
constitutivas do ser humano. Este outro, porém, é apenas um mediador de uma voz
interior que processará e se apresentará em forma de identidade.
Experiências:
os lugares das lembranças, a subjetividade do momento vivido e a produção da
memória coletiva
As inovações ocorridas com o processo histórico conduzem os indivíduos
(ainda que por vezes inconscientemente), a adotarem ideologias e filosofias que
refletem seu estilo de vida. Portanto, todos são atores de um contexto social
por nele estarem inseridos, o que não
impede de ter as subjetividades. Cada vida, cada criatura, cada projeto
e trajeto é o resultado de uma história. Todos têm pequenos marcos, guardam
datas a serem comemoradas e, não raramente, guardam pequenos simulacros de
acontecimentos que mereceram registros.
O sociólogo Émile Durkhein (2004, p.37) define as manifestações privadas
do indivíduo como aquelas que “tem bem algo social, uma vez que reproduzem, em
parte, um modelo coletivo; mas cada uma delas depende também, e numa larga
medida, da constituição orgânico-psíquica do indivíduo, das circunstâncias
particulares em que está colocado”.
Há, portanto, uma coerção que, sustentada pela educação, transmite
valores, impondo vontades e verdades que são adotados sob a roupagem de
tradição. Todos são gerados, nascidos e moldados em sociedade e nela adquirem
uma estrutura cultural que é iniciada nos laços sanguíneos e legitimada na
convivência com determinados grupos.
A humanidade reconhece e valida grandes momentos históricos, resultantes
de transformações e rupturas que tem como alicerce posições culturais,
políticas e econômicas.
Não há dúvidas quanto à importância da experiência coletiva e dos
mecanismos que esta acaba produzindo. Histórias de comunidades e civilizações
são transmitidas através da oralidade ou de testemunhos materiais, denominados
monumentos. Sobre esta projeção material da história e sua etimologia, define
Le Goff (1992, p. 535), “a palavra
latina monumentum remete para a raiz
indo-européia men, que exprime uma das
funções essenciais do espírito (mens), a memória (memini). O verbo monere significa
‘fazer recordar’, de onde ‘avisar’, ‘iluminar’, ‘instruir’.”
O homem é, portanto, ser ativo na construção da história e salvaguarda as
memórias coletivas, preservando fatos importantes e cruciais no que diz
respeito ao seu passado recente e no de seus antepassados. Referente a essa
vivência do indivíduo, Hélio Salles Gentil (2008, p.10), afirma que:
É evidente que entre o ponto de partida e o ponto de
chegada há um processo, há um tempo que passa e que tudo transforma. Um tempo
em que ele sofre mudanças, transforma-se em outro. . É ele mesmo, mas é outro.
Já não é o mesmo de quando partiu, no entanto ainda é ele mesmo.
As reflexões acerca dos elementos memorísticos, nas palavras e nas
imagens da obra Apenas um curumim, de
Werner Zotz e ilustrações de Andrés Sandoval, têm por linha mestra o diálogo
entre essas duas linguagens e as informações que cada uma delas, a seu modo,
acrescenta e enriquece à narrativa. Além disso, são os ensaios cotidianos que,
contidos nas memórias dos personagens, baseiam e alinhavam a análise da obra
que segue.
Com a chegada dos caraíbas – homens brancos – mudanças ocorrem nas
tribos indígenas. O velho pajé Tamãi e um curumim, sobreviventes dos
conflitos étnicos e culturais, saem de sua tribo em busca da preservação de suas
crenças. A jornada rio afora, é um incessante esforço do velho, que procura
através da história do seu povo, mostrar ao curumim a necessidade de lutar
pela sua identidade, buscando um mundo justo e de paz. Na narrativa - de
diálogos entre velho e criança - misturam-se medo, resistência e esperança.Desespero. Medo. Receio. Essas palavras poderiam, razoavelmente,
caracterizar as atitudes do personagem Tamãi – um pajé em fuga, que busca
preservar sua cultura. A obra de Werner Zotz traz a trajetória de dois
indígenas num caminho de constatações e busca da manutenção dos costumes de seu
povo. O autor, premiado tanto em território brasileiro como estrangeiro, buscou
amarrar sua narrativa num período presente para que, através daquilo que está
posto, o leitor faça uma viagem em busca da conscientização da situação das
tribos indígenas na atualidade. Por apresentar o recurso: presente – passado –
presente, o livro foi selecionado para análise. Além deste fator a ilustração
de Andrés Sandoval vem acrescentar uma narrativa imagética que reforça o
ambiente dos personagens e agrega força à condição que o enredo sugere: uma
jornada em busca dos elos culturais perdidos por Jari, um curumim (criança na
língua tupy-guarani). A memória é crucial na trama das personagens, pois é ela
que vai motivar a busca por um destino diferente.
A ilustração conduz o leitor a uma narrativa visual contínua, pois mostra
as fases ultrapassadas pelas personagens. Ela caminha independente e em diálogo
com o texto verbal e, na jornada dos protagonistas, traduz a amplitude dessa
relação com a natureza quando as personagens são representadas em escala
pequena, em relação à grandeza do rio, da vegetação e das paisagens por onde
passam.
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O elemento visual que traduz a trajetória vivida pelas personagens, e que
tão bem expõe a relação do homem/natureza, é o rio. No caso das ilustrações de Apenas um curumim o rio é o principal
elemento e é representado num ponto de vista aéreo, o que traduz melhor o
sentido de percorrer um caminho desenhando e marcando o que deixou para trás.
O rio deixa marcas nos homens, animais e plantas que vivem as suas
margens. A simbologia circunscreve as imagens que se resumem em elementos
construídos em formas sintetizadas. Os detalhamentos e mimetismos foram
substituídos por formas simples e em duas cores (vermelho e amarelo), porém,
durante o percurso, muitos ambientes se formam às margens do rio e nele mesmo.
As artes visuais narrativas usam da representação e de elementos que
fazem parte do imaginário coletivo para criar texto. Na teoria geral das cores
há algumas que possuem maior vibração, entre elas está o vermelho e o amarelo,
ou seja, são cores mais quentes. Por que o ilustrador optou pelo uso dessas
cores numa composição, onde os elementos principais e a própria predominância
da linha horizontal sugerem calmaria? O que é possível refletir a esse respeito
é que a cor não representa a realidade em si, mas sim, as angústias internas
das personagens que, postas à prova quanto ao novo, vivem as incertezas do
percurso escolhido.
Em Apenas um Curumim a ideia
central é uma jornada em busca da memória de um povo, de seus costumes e da
sintonia entre homem e natureza. Em sua narrativa verbal é possível perceber os
elementos memorísticos nas reflexões dos dois personagens, não há diálogo
direto, há apenas reflexões sobre diálogos e ações dos personagens. O leitor
vai construindo e seguindo a jornada de ambos apenas pelo pensamento dos
protagonistas, ou seja, a narrativa se constrói a partir de dois pontos de
vista.
Na ilustração há apenas um ponto de vista. Ele é aéreo, é a visão de um
único narrador e traduz a passagem do tempo através do curso do rio que corta
horizontalmente as páginas do livro e constrói, com curumim, sua jornada ao
autoconhecimento por meio das memórias do pajé e dos objetos e saberes
tradicionais do povo indígena. O rio segue o curso às vezes se mostrando farto,
às vezes vazio. Em alguns momentos se abre em várias direções, escorre por
distintas paisagens. O percurso de um rio pode significar o percurso de uma
vida, um caminho percorrido e obstáculos vencidos, ou seja, traduzem o
tempo/memória daqueles que, voltando-se para si, percebem que é preciso fazer
muitas curvas e a cada uma que é transposta uma vitória é alcançada (figura 3)
O dinamismo da narrativa está, ainda, baseado nos relatos feitos pelas
personagens expostos no texto verbal, pois durante os dezesseis capítulos,
existe uma interessante divisão: ora o pajé Tamãi relata seu ponto de vista,
ora o curumim Jarí apresenta sua visão da realidade vivida. O jogo narrativo,
que intercala as falas das personagens, conduz o texto e revela o apego e o
respeito dado ao passado pelos membros mais velhos de uma tribo.
A primeira questão, referente ao processo mnemônico das personagens, está
pautada na existência ou não de um apego material para retomada das lembranças
de seu povo. Os fatos recordados são buscados nas vivências subjetivas.
Observemos a fala de Jarí: “Deixa ver
como tudo começou... Foi quando ele resolveu fazer ubá [canoa] pra viajar até
nosso povo.” (Apenas um Curumim, p. 22). A busca pela lembrança do fato vivido
está pautada na recordação daquele momento.
A trama tem em sua abertura, a constatação do pajé: “Caraíbas tem cabeça oca. Deviam ter aprendido muitas lições com o
povo filho da terra e não souberam enxergar, nem ouvir, nem sentir. E sofrerão
por isso” (Apenas um Curumim, p.10). Os homens brancos (caraíbas) não
respeitaram os costumes dos indígenas e (na visão do pajé) pagarão um preço
alto por sua atitude. A jornada de Tamãi tem como objetivo encontrar a tribo
ainda existente e entregar a ela, o curumim. O que quer o sábio pajé com tal
atitude? Preservar os ensinamentos de seus antepassados. Sua fala é feita com
muita propriedade, pois sua experiência de vida permite que seja dessa forma: “Muita coisa não sabe você, mas sei eu.
Por isso sou pajé e por isso sou velho.”
(Apenas um Curumim, p. 20).
Suas lembranças apresentam sempre a coletividade, revelando os rituais e
os costumes rotineiros daquele povo.
A mata era
grande, verde, com muita caça. Os rios eram claros e limpos. Os peixes
rebojavam em todos os remansos. A terra era mãe boa e sempre havia mandioca pra
farinha pro cauim. Se havia fome, fazia-se caça. E saíam a caçar todos os
homens, enquanto as mulheres preparavam o cauim. E comíamos e bebíamos por
muitos dias, esquecidos de outros problemas (Apenas um Curumim p. 20 e
21).
O uso constante da palavra antepassados – como alusão àqueles
responsáveis pela manutenção dos costumes e ritos do povo indígena – demonstra
a necessidade de preservação da cultura imaterial. Essa cultura não pode ser
tocada, ela é transmitida hereditariamente. Portanto, cabe aos mais velhos
repassar aos mais jovens e garantir que o ciclo continue. É a oralidade que
promove essa sucessão de conhecimentos, como apresentam os trechos a seguir:
“Avô índio falou pra pai índio, pai índio falou pra filho índio” (p.24) e
“Antepassados ensinaram que, quando necessário e quando não há outro caminho,
devemos até mesmo lutar” (Apenas um
Curumim, p.36).
Durante todo o enredo, o pequeno curumim procura rejeitar as ideias do
pajé, questionando se seriam mesmo os caraíbas tão ruins assim e se sua cultura
era mesmo tão predadora. Mas os exemplos e as atitudes do velho pajé, além de
sua resistência à insistência da criança, tomam força e os dois seguem seu
caminho rumo à tão aguardada tribo – local em que o curumim poderá vivenciar
seus costumes e preservar seus rituais.
Tanto o autor como o ilustrador se apropriam de seus recursos narrativos
para uma reflexão sobre o tema central da história: as memórias construídas
coletivamente dentro de um grupo.
Em Apenas um curumim temos um exemplo de sintonia entre palavra e
imagem, pois uma não reproduz a intenção da outra, mas sim, acrescenta
elementos que se completam. O rio - como elemento que traduz a construção de
uma memória por meio de um percurso - é um signo pouco citado no texto verbal,
neste, o elemento de ligação entre passado e presente é simbolicamente representado
pela canoa (ubá em tupy-guarani).
O caráter aberto da obra está em sintonia com as propostas atuais para as
construções narrativas, legitimando a perspectiva de Umberto Eco (2003, p.67),
Das
estruturas que se movem àquelas em que nós nos movemos, as poéticas
contemporâneas nos propõem uma gama de forma que apelam à mobilidade das
perspectivas, à multíplice variedade das interpretações. Mas vimos também que
nenhuma obra de arte é realmente “fechada”, pois cada uma delas congloba, em
sua definitude exterior, uma infinidade de “leituras” possíveis.
Considerações finais
A literatura tem um vasto campo para análise e a literatura infantil e juvenil
permite uma ampliação dessa gama quando nela trabalham em relação híbrida a
palavra, a imagem e o objeto (livro). Essa característica do gênero possibilita
o desenvolvimento de uma série de trabalhos educativos nas mais variadas áreas
do conhecimento. Embora a linguagem
visual e verbal priorizem a poesia, a obra promove uma leitura social e de
identidade referente a essa escrita, indagando: Qual é o lugar e a situação das
comunidades indígenas no Brasil?
O art. 26-A da lei no11645,
de 10 de março de 2008, vem contribuir para parte desta discussão, ela traz o
campo das artes (literatura, artes visuais), matérias do currículo escolar,
como veículos de entendimento da cultura indígenas no Brasil. Sabe-se que
dentro desta linguagem há várias maneiras de abordar o tema. Porém, pela
recente vigência da lei, pouco se tem de concreto na formação de professores
para abordagem correta, sem desvios, da
real condição dos povos e da
cultura indígena no país. Enquanto o
poder regulador institui a obrigatoriedade da abordagem da cultura indígena nas
escolas como forma de disseminar a cultura destes povos, eles mesmos sentem-se
perdidos.
Muitos indígenas vivem a angústia
de se viver praticamente em um “não-lugar”. O espaço ocupado não é seu de
origem, ou seja, se um indígena vive na cidade e usufrui desse meio não é mais
parte de seu povo, mas também, nunca será um caraíba. Mas então, o que ele é?
Não existe sentimento de pertença e muitas vezes não há uma vontade dos grupos
de que o espaço seja conquistado. Por isso, é de fundamental importância que se
fomente ações e estudos sobre essas necessidades e sobre o entendimento da
cultura indígena nas escolas indígenas e não indígenas.
Esses povos vivem hoje em situação crítica, com alto índice de suicídio
entre jovens indígenas segundo Gersem Luciano Baniwa, líder indígena e mestre
em antropologia, (fala oral)[4] por não
conseguirem lidar com dois mundos completamente diferentes. Há uma pressão por
parte da cultura “branca” (grifo nosso) para que eles se mantenham dentro dos
moldes da cultura indígena, porém, viver sob essas condições significa abrir
mão de todos os confortos que a tecnologia oferece. A obra Apenas um curumim,
discute o retorno de um jovem indígena inserido na cultura “branca” (grifo
nosso) para a sua cultura de origem. Mas, será que é certo neste processo de
adaptação ao novo espaço social, que uma das culturas se anule? Até onde, se
pode usufruir e contribuir com os saberes e os costumes das duas culturas para
que no processo as referências primeiras não se percam?
Referências
BOSI, Eclea. Memória e Sociedade: Lembranças de Velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. São
Paulo: Martin Claret, 2004.
ECO, Umberto. Obra aberta: forma
e indeterminação nas poéticas contemporâneas. 9ªed. São Paulo: Perspectiva,
2003.
GENTIL, Hélio Salles. Paul
Ricoeur, a presença do outro. In:
Mente, Cérebro e Filosofia. São Paulo: Duetto Editorial, 2008.
LE GOFF, Jacques. A História Nova. São Paulo: Martins
Editora, 1992.
RICOEUR, Paul. A Memória, a História, o Esquecimento.
São Paulo: UNICAMP, 2008.
ZOTZ,Werner.Apenas um curumim. Ilustração: André Sandoval. 27ª Ed, 2006.
[1] Mestre em Patrimônio cultural e Sociedade
– UNIVILLE - Pesquisador do Programa Institucional de Literatura Infantil e
Juvenil – PROLIJ – Universidade da Região de Joinville-UNIVILLE
[2] Mestreem Patrimônio cultural e Sociedade –
UNIVILLE - Bacharel e Licenciada em
Artes Visuais – UNIVILLE - Pesquisadora
do Programa Institucional de Literatura Infantil e Juvenil – PROLIJ –
Universidade da Região de Joinville-UNIVILLE
[3] Doutora em Letras/Literatura/ USP - pesquisadora e professora do Mestrado em
Patrimônio Cultural e Sociedade e coordenadora do Programa Institucional de
Literatura Infantil e Juvenil – PROLIJ – Universidade da Região de
Joinville-UNIVILLE
[4] Palestra “Territorialidades e
Interculturalidades na perspectiva da Educação Escolar Indígena"
proferida no Abril Mundo 2010 - Seminário de literatura infantil e juvenil,
promovido pelo Programa Institucional de Literatura infantil e juvenil- PROLIJ-
UNIVILLE .
Publicado originalmente em:
http://educere.bruc.com.br/CD2011/trabalhos_3.html
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